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terça-feira, 9 de março de 2010

A lição moderna

Sinal dos tempos: cada vez menos a gente vê questões da Educação, dos professores e dos alunos/estudantes na imprensa. Os mestres de escolas privadas de São Paulo estão numa luta que parece escondida mais profundamente do que os buracos do Metrô. Soube da luta na rádio CBN. Eu lavava a louça do dia e não pude dar a atenção devida. Em tempo: considero lavar louça -- o que faço desde menino -- atividade intelectual -- porque inútil. Mesmo sem prestar a atenção devida ouvi que os mestres cobram dinheiro pelo tempo que ficam na linha no computador. Pelo pouco que tentei aprender, sei que a função precípua do mestre não é ensinar a fazer conta nem a decorar tabuada; é ensinar a pensar. A cobrança de dinheiro pelo tempo que trabalham na linha no computador é talvez a lição mais moderna que os mestres de São Paulo podem apresentar nos tempos que correm. Tempos em que trabalhadores já provectos trabalham em jornada dupla ou tripla e pensam brincar no teclado diante da tela do computador. Mais assustador que os argumentos do preposto do patronato para bizarra e canhestramente justificar o injustificável não-pagamento de dinheiro pelo tempo na linha do computador para os professores é a burra -- sim, permitam -- a noção burra que até trabalhadores têm do uso do computador. Quem fica no teclado e diante da tela do computador -- em função -- como é o caso dos professores -- está no exercício do ofício. Tem que receber dinheiro em troca -- por razão singela e prosaica: esta é a base do capitalismo. Ou será que este tempo não é o que trabalhadores de antigamente chamavam, e até morreram pelo reconhecimento, de hora extra? Cadê a CUT? Cadê o governo democrático e popular do ex-operário apoiado sempre por grande parte dos professores? E cadê os outros trabalhadores? Computador não é "brinquedinho de criança" não, gente. É uma ferramenta de trabalho moderna que obriga a rediscussão do pagamento pela mão-de-obra. Mais ainda no caso dos mestres. Casa de professor não é nem pode ser sala de aula. Como o preposto do patronato não se impôs limite, mo permitam:

E se um aluno do período da manhã pedir socorro a um mestre -- pelo computador e às dez da noite -- para não se suicidar, o mestre não entrar na linha e o aluno se matar?

Com a palavra, os donos de colégio privado de São Paulo e -- por quê não? do Brasil...

3 comentários:

  1. Nossa! Que bom saber que existe gente disposta e capaz de fazer uma reflexão como essa. Como professora e ser humano agradeço as palavras.
    Amira Doca - professora da rede privada de ensino de São Paulo.

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  2. Boa noite, professora Amira... Primeiro, desculpa pela demora do agradecimento... Quem agradece sou eu. Pelas palavras elegantes e pela função que me permitiu viver até hoje mesmo sendo burro velho e renitente. E pelo tempo dispensado... Força e fé... Obrigado...

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